segunda-feira, 23 de março de 2009

Schumpeter vs Keynes: duas escolhas irreconciliáveis

Alfredo Marcolin Peringer*

Os economistas Joseph A. Schumpeter e John Maynard Keynes têm em comum apenas o fato de terem nascido no mesmo ano (1883), de resto, diferem em praticamente tudo. Schumpeter, mulherengo, aspirava ao título de melhor amante de Viena. Keynes, desde cedo, teve outras preferências amorosas. “As primeiras relações românticas e sexuais de Keynes foram com homens”, diz o New York Times (11/05/1986). Já Charles Hession, no “A Personal Biography of the Man Who Revolutionized Capitalism”, considera-o andrógino, com traços masculinos e femininos, “presentes em todas as suas obras, do Tratado à sua Teoria Geral”, diz. Outros preferem ironizar o lado ‘hetero’ de Keynes, sugerindo que o seu casamento com a bailarina russa, Lydia Lopokova, “pode ter sido uma união, para todos os efeitos, feliz... todavia sem filhos” (Wikipedia, free encyclopedia).
Mas as preferências sexuais de Keynes (ou de Schumpeter!) não são relevantes em si, nem para explicar as suas grandes divergências econômicas. As divergências econômicas estão relacionadas às suas obras e mestres. Schumpeter formou-se na Universidade de Viena e foi aluno de Eugen Böhm-Bawerk, precursor da escola econômica austríaca, escola em que a disciplina é analisada dentro do campo social, pelas ações humanas. Schumpeter seguiu, ainda que de maneira incompleta, a teoria austríaca, dando ênfase às ações inovadoras dos empresários no mercado, criadoras de novos bens e novas tecnologias, num descarte dos bens e processos antigos, denominado por ele de “destruição criadora”, essenciais ao desenvolvimento econômico sustentado (Teoria do Desenvolvimento Econômico).
Keynes, formado em matemática na nobre Universidade de Cambridge, estudou economia com Alfred Marshall, numa época em que predominava a idéia de que só tinha valor científico o que podia ser observado e experimentado. Como a economia, nesses aspectos, era a prima pobre das ciências, foi induzido pelo mestre a dar mais “cientificidade” à disciplina, usando cálculos matemáticos sofisticados, ignorando a impropriedade desse método ao estudo das ciências sociais. Ludwig Von Mises, no “Ação Humana”, satiriza que: “todos os autores que pretendem estabelecer uma base epistemológica das ciências da ação humana, segundo padrão das ciências naturais, erram lamentavelmente”. De fato, Keynes, confundindo as metodologias das duas ciências, não conseguiu visualizar por completo as reais causas econômicas da grande depressão: a) o excesso de moeda e crédito, como iniciador; b) o governo, como causador; e c) a queda dos investimentos e da respectiva poupança, como resultados (e, não, do consumo!). Culminou num erro descomunal: recomendar que o próprio algoz, o governo, equilibrasse a economia. Doug French cita um discurso na American Economic Association (1948), pronunciado por Schumpeter, no qual fala:: “Keynes está cego por sua ideologia da estagnação: a de que é necessário o estímulo governamental para eliminar o desemprego. O coração do sistema capitalista tem um dinamismo sem fim, bem o oposto do que defende” (Schumpeter vs Keynes).
Schumpeter e Keynes, duas vidas e duas obras irreconciliáveis. Desditosamente, Keynes venceu a contenda econômica na época, apoiado por interesses burocráticos que exigiam mais participação do governo na economia. Mas foi uma vitória de Pirro: só deixou perdedores sociais e econômicos no mundo, principalmente naqueles que acreditaram nele.
*Economista

Um comentário:

ALLmirante disse...

Perfeito, Mestre. Salud!