quarta-feira, 4 de março de 2009

O perverso avanço do estatismo

Alfredo Marcolin Peringer*

O físico Thomas Kuhn foi feliz ao mencionar que os profissionais das ciências naturais não possuem respostas mais firmes ou mais permanentes para os problemas científicos legítimos do que seus colegas das ciências sociais ou humanas (A Estrutura das Revoluções Científicas). Muitos podem pensar que se trata de um ato de modéstia de Kuhn. Mas quem conhece Economia, parte mais desenvolvida das ciências humanas, sabe que ele está sendo sincero. Foi Adam Smith, no seu A Riqueza das Nações, quem postou o alicerce do método praxeológico, próprio das ciências sociais, ao explicar que o homem é um ser ativo, que persegue seus objetivos motivado por estímulos e desestímulos que surgem naturalmente no mercado ou são impostos pelo governo. Coube a Ludwig Von Mises apenas aprimorar o método, desenvolvendo, analiticamente, as diversas categorias da ação que levam as pessoas a formar sociedades economicamente progressistas — as de livre mercado! — ou retrógradas, as estatistas (The Ultimate Foundation of Economic Science).
São resultados que também vêm sendo obtidos no campo empírico, graças à criação do “Índice de Liberdade Econômica” do Fraser Institute. Nele é avaliada a participação do governo em cerca de 140 países a partir dos gastos públicos, da carga tributária e de outros componentes intervencionistas, chegando às mesmas conclusões teóricas de Mises: os países com menor participação do Estado na atividade econômica são os que têm maior renda per capita e crescimento econômico. Os mais intervencionistas, onde se encontra o Brasil (gastos públicos ao redor de 40% do PIB!), são os que têm relativamente baixo crescimento econômico e baixa renda per capita (www.freetheworld.com/2008/EconomicFreedomoftheWorld2008.pdf).
Infelizmente, ainda que as crises sejam “o produto de doutrinas que atribuem ao governo o poder mágico de criar riqueza do nada”, como demonstra praxeologicamente Ludwig Von Mises em The Theory of Money and Credit, o desentendimento monetário vem levando alguns economistas a receitar, nos períodos recessivos, a ação estatal para suprir a “falta de dinheiro” ou de crédito. O receituário, de origem keynesiana, é tão falso como um bombeiro receitar gasolina para apagar um fogo. Nas crises não há falta de dinheiro na economia. Há, naturalmente, um aumento da demanda por moeda (redução da velocidade!), provocado pelo medo e pelas incertezas em relação ao futuro. Indivíduos, bancos e empresas requerem, nesses períodos, mais tempo para formarem suas expectativas e tomarem suas decisões de gastos, investimentos e empréstimos. Keynes está certo — ao menos nisso! — quando, referindo-se ao aumento das injeções de moeda e crédito na economia, afirma que “não adianta levar um cavalo à fonte, se ele não tem sede”. Só que, em vez de aceitar as soluções do mercado (não há outras!), foi mais infeliz ainda: achou que o governo deveria agir como agente gastador, investidor e emprestador desses recursos na economia.
A falsa teoria keynesiana foi o trampolim para um substancial e perigoso aumento do tamanho do Estado no mundo, fato muitas vezes denunciado por Milton Friedman, a exemplo da entrevista dada a John Hawkins, jornalista americano, onde comenta: “os gastos governamentais diretos andam perto de 40% da renda nacional… e se incluirmos os indiretos, eles chegam a 50%”. São números preocupantes. Os gastos públicos andavam em torno de 3% da renda nacional naquele país no início do século passado (http://www.rightwingnews.com/interviews/friedman.php).
Mas as evidências teóricas e empíricas não são suficientes para nos deixar otimistas e achar que possa haver uma reversão em futuro próximo. Os governos costumam sair fortalecidos das crises. A versão keynesiano-socialista agrada o meio burocrático, principalmente a classe política. Significa mais verbas públicas para gastar e distribuir... ainda que extorquidas de uma população de contribuintes preponderantemente pobre, como é o caso brasileiro.

Economista

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