Alfredo Marcolin Peringer*
Muita gente por certo se indignou com pesquisa divulgada recentemente pelo instituto Vox Populi: 85% dos entrevistados acreditam que os políticos agem em benefício próprio. O resultado é um retrato fiel do grau de insatisfação dos brasileiros com seus representantes. Mas quem estuda Economia sabe que o auto-interesse é um comportamento essencialmente humano. Adam Smith, há dois séculos, alertou que “não é da benevolência do padeiro ou do açougueiro que se deve esperar o pão e a carne de cada dia, mas do seu auto-interesse”. Ayn Rand foi mais incisiva. Em seu A Virtude do Egoísmo A verdadeira ética do homem: o egoísmo racional, expõe que o egoísmo racional é benéfico econômica e socialmente. Conclui, inclusive, que “sem ele é impossível a sobrevivência do gênero humano na Terra”.Mas foi Ludwig Von Mises quem demonstrou, categoricamente, no seu compêndio Ação Humana (1949), que esse “egoísmo” não é um atributo do cargo ou da função dos indivíduos, mas das suas ações, prevalecendo tanto na iniciativa privada quanto na pública. Só que, na privada, Smith cita uma “mão invisível” que uniria o interesse individual ao coletivo. Na pública, Hans-Hermann Hoppe, filósofo seguidor de Mises, diz que há conflitos. “Motivadas pelo interesse próprio, pela desutilidade do trabalho e com o poder de taxar, as ações dos servidores governamentais tendem, invariavelmente, para a maximização dos gastos e minimização da produção”, concluindo que: “Quanto mais dinheiro gastarem e quanto menos horas trabalharem, mais satisfarão os seus interesses” (The Future of Liberalism).Hoppe também acusa o poder governamental, em colóquio do Mont Pelerin Society (Barcelona, 1997), pelo mais de um século de declínio do liberalismo (e agigantamento do Estado!). Fundado nas leis praxiológicas e na prevalência do interesse próprio nas ações humanas, vem demonstrando que há uma incompatibilidade dos regimes democráticos com os da propriedade privada dos meios de produção, base da economia de mercado: o interesse próprio, benéfico no mercado, torna-se extremamente deletério no setor público. De fato, o tamanho do Estado, medido pela carga tributária, não alcançava dois dígitos percentuais do PIB no mundo há cerca de um século (7% do PIB no Brasil em 1920, segundo o Ipea).
A pesquisa Vox Populi revelou uma situação que precisa ser equacionada, antes que alcance dimensões totalitárias. Milton Friedman sugere regras constitucionais claras como freio ao crescimento desbaratador do Estado. Mas são inconsistentes. Ele subestima a força do interesse próprio no setor público: as regras são alteradas sob os mais estapafúrdios pretextos. As soluções consistentes têm que contar com um sistema semelhante ao privado: que unam os dois interesses, o individual e o coletivo.
*Economista
Muita gente por certo se indignou com pesquisa divulgada recentemente pelo instituto Vox Populi: 85% dos entrevistados acreditam que os políticos agem em benefício próprio. O resultado é um retrato fiel do grau de insatisfação dos brasileiros com seus representantes. Mas quem estuda Economia sabe que o auto-interesse é um comportamento essencialmente humano. Adam Smith, há dois séculos, alertou que “não é da benevolência do padeiro ou do açougueiro que se deve esperar o pão e a carne de cada dia, mas do seu auto-interesse”. Ayn Rand foi mais incisiva. Em seu A Virtude do Egoísmo A verdadeira ética do homem: o egoísmo racional, expõe que o egoísmo racional é benéfico econômica e socialmente. Conclui, inclusive, que “sem ele é impossível a sobrevivência do gênero humano na Terra”.Mas foi Ludwig Von Mises quem demonstrou, categoricamente, no seu compêndio Ação Humana (1949), que esse “egoísmo” não é um atributo do cargo ou da função dos indivíduos, mas das suas ações, prevalecendo tanto na iniciativa privada quanto na pública. Só que, na privada, Smith cita uma “mão invisível” que uniria o interesse individual ao coletivo. Na pública, Hans-Hermann Hoppe, filósofo seguidor de Mises, diz que há conflitos. “Motivadas pelo interesse próprio, pela desutilidade do trabalho e com o poder de taxar, as ações dos servidores governamentais tendem, invariavelmente, para a maximização dos gastos e minimização da produção”, concluindo que: “Quanto mais dinheiro gastarem e quanto menos horas trabalharem, mais satisfarão os seus interesses” (The Future of Liberalism).Hoppe também acusa o poder governamental, em colóquio do Mont Pelerin Society (Barcelona, 1997), pelo mais de um século de declínio do liberalismo (e agigantamento do Estado!). Fundado nas leis praxiológicas e na prevalência do interesse próprio nas ações humanas, vem demonstrando que há uma incompatibilidade dos regimes democráticos com os da propriedade privada dos meios de produção, base da economia de mercado: o interesse próprio, benéfico no mercado, torna-se extremamente deletério no setor público. De fato, o tamanho do Estado, medido pela carga tributária, não alcançava dois dígitos percentuais do PIB no mundo há cerca de um século (7% do PIB no Brasil em 1920, segundo o Ipea).
A pesquisa Vox Populi revelou uma situação que precisa ser equacionada, antes que alcance dimensões totalitárias. Milton Friedman sugere regras constitucionais claras como freio ao crescimento desbaratador do Estado. Mas são inconsistentes. Ele subestima a força do interesse próprio no setor público: as regras são alteradas sob os mais estapafúrdios pretextos. As soluções consistentes têm que contar com um sistema semelhante ao privado: que unam os dois interesses, o individual e o coletivo.
*Economista
Um comentário:
Caro Professor Peringer,
Eu te parabenizo por este primoroso artigo. Estou iniciando meus estudos da Escola Austríaca, e esse teu blog é excelente. Comecei a me interessar pela Economia Liberal a partir do momento em que li o livro "É por isso que o Brasil não vai", de Francisco Rypl. Passei a verdadeiramente compreender o mundo em que vivo através da ótica econômica liberal. Há perguntas minhas que não querem calar: Se o liberalismo econômico é tão bom, tão adequado às imperfeições humanas, tão ajustado aos princípios da ação humana, como puderam nascer monstros como o Marxismo e o Keynesianismo (apesar de ter tirado os EUA, mesmo que momentaneamente, da crise de 29)? Se o liberalismo traz resultados mais eficazes do que os utilizados pelos governos, por que então não é definitivamente adotado, deixando-se de mencionar fatores como a busca de privilégios ("mamar na teta" e usar o poder coercitivo do Estado a seu favor) e a inveja da maioria?
Gostaria de que o senhor me respondesse tais perguntas.
Eis meu e-mail: marcelowerlangassis@uol.com.br.
Um grande abraço!!!
Marcelo Assis.
Postar um comentário