quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O gene egoísta e o meu pé de laranja-lima

A fama do biólogo evolucionista Richard Dawkins começou com seu livro O Gene Egoísta, no qual defende a tese de que o gene é a verdadeira e única unidade da evolução e da seleção natural. "São os genes que, em proveito próprio, manipulam os organismos sobre os quais navegam", diz. Ainda que os organismos sejam entidades mortais, sustenta que o gene é imortal: vem pulando de um corpo para outro ao longo de incontáveis gerações, a partir dos seus ancestrais peixes, minhocas, protozoários, bactérias, só para citar alguns.

Há muitos exemplos empíricos que se encaixam na tese genética do autor. No último fim de semana, por exemplo, o meu filho, tentando libertar em meu quintal um velho pé de laranja-lima de um parasito, comentou: "Que praga burra. Continua sugando a seiva da árvore, minguando seus frutos e pondo em risco a vida não só da planta, como a sua". Não entendeu nada quando respondi que não era ela, mas os genes instalados em seu DNA que a levavam a agir de forma míope e estúpida.

Mas Dawkins não se contentou em ficar no campo das ciências naturais. Foi mais adiante, criando a teoria memética, escrita em alusão à genética, só que aplicada ao campo das ciências humanas. No lugar do "gene", criou a figura do "meme", segmento de informação (idéia, pensamento, teoria, hábito, prática etc.) que é passado verbalmente ou por ação ao longo dos tempos em sociedade. Inobstante o autor não haja dado suficiente informação sobre a característica do "meme", onde e como ele evolui, pode-se aceitar, como um dos seus hospedeiros, o setor estatal, devido à grande metamorfose e ao seu gigantismo dos últimos tempos. E, de fato, o gasto público, agregado mais representativo desse segmento, pulou de pouco mais de 5% do PIB há menos de cem anos, para perto de 40% nos dias de hoje no Brasil.

Dawkins vem recebendo muitas críticas a sua teoria memética. As mais sólidas provêm das obras de Karl Popper, um dos gênios da filosofia da ciência. Entre elas a de que: a) as observações empíricas jamais podem ser consideradas verdades absolutas ou definitivas; b) a tese memética é refutada pelo método próprio das ciências humanas, a praxiologia, desenvolvido por Ludwig von Mises em sua magistral obra Ação Humana.

Mas as desavenças metodológicas precisam ser deixadas de lado: o problema estatal exige uma solução imediata. Afinal, tanto a tese do "meme egoísta" de Dawkins, quanto a do axioma da ação, fundamentado nas leis praxiológicas, mostram, claramente, a existência de uma lei de ferro que leva, com o tempo, ao inchaço da máquina pública. Ainda mais porque, caso não haja um tratamento de choque, a capacidade produtiva da economia brasileira, semelhantemente à do meu pé de laranja-lima, continuará definhando, perdendo o vigor, os frutos e a capacidade de se manter viva.

ALFREDO MARCOLIN PERINGER Economista
Zero Hora, 28 de fevereiro de 2008 N° 15524

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