A Royal Society, tradicional academia britânica de
ciência, estará no Brasil em junho próximo para apresentar um trabalho na
Rio+20, assinado por 23 cientistas, intitulado “People and the Planet”, versando sobre o recorrente e falso tema do
crescimento da população vs o esgotamento
dos recursos naturais. O trabalho traz a advertência de John Sulston,
responsável pelo relatório, de que podemos: "optar por reequilibrar o uso
de recursos em favor de um padrão mais igualitário de consumo; ou por não fazer
nada e nos deixar conduzir a uma espiral decrescente de males econômicos,
sociopolíticos e ambientais, levando a um futuro mais desigual e
inóspito."
O trabalho é uma ramificação da velha tese do demógrafo
britânico Thomas Malthus que vaticinou, em 1798, no seu “An Essay on the Principle of Population”, o fim da humanidade, devido
à relativa falta de alimentos necessários para a sobrevivência do Homem na
Terra. Esse trabalho, apesar de ser totalmente falso teoricamente e ter-se
mostrado falso também empiricamente, repercutiu bastante na mídia, a tal ponto
de, no final da década de 70,
surgir outro trabalho, feito pelo chamado “Clube de Roma”, com o nome de “The Limits to Growth”, voltando a
vaticinar risco à sobrevivência humana, baseado, desta vez, na exaustão dos
recursos naturais não-renováveis. Aliás, essa tese já havia sido especulada em 1866 por William
Stanley Jevons, no seu livreto “The Coal Question-An
Inquiry Concerning the Progress of the Nation, and the Probable Exhaustion of
Our Coal-Mines,
em que, influenciado por Malthus, apontava o carvão como um dos primeiros
recursos naturais a ser extinto.
A preocupação do Clube de Roma,
a exemplo da malthusiana, também não se verificou. Embora seus defensores afirmassem que
o sofisticado modelo matemático que estavam trabalhando era “como os demais
modelos, imperfeito, excessivamente simplificado e que se tratava de um
trabalho inacabado”, o documento foi difundido com muita pompa, alertando
que as reservas de petróleo no mundo, de 550 bilhões de barris, acabariam por
volta de 1990, devido ao excesso de consumo. A ideia estava baseada na
pressuposição de que esse esgotamento afetaria substancialmente o crescimento
industrial e agrícola e, concomitantemente, a vida do homem na Terra. Novamente, embora o consumo de petróleo tenha
sido superior, inclusive às previsões do próprio modelo (foi de 600 bilhões de
barris no período), as reservas de petróleo, em vez de acabar, dobraram de
tamanho, alcançando algo em torno de um trilhão e duzentos bilhões de barris em 2011 — e devem continuar crescendo, segundo expectativas.
As profecias da Royal Society, como as de Malthus, Jevons
e do Clube de Roma também são falsas. Estão fundadas em métodos científicos próprios
das ciências naturais, que permitem o uso de modelos matemáticos, por trabalharem
com parâmetros fixos, bem diferentes dos utilizados pelas ciências humanas, em
que não há parâmetros fixos, somente variáveis. Os signatários do documento não
levam em conta, num sentido global, os fundamentos da ação humana prescritos
pela praxeologia econômica. Ignoram, por isso, o fato de que as reservas do
petróleo e dos demais minerais não-renováveis não acabarão no mundo porque, bem
antes de acabar: a) os preços dos bens tendem a subir; b) tornar-se-ão
antieconômicos, passando a ser consumidos paulatinamente e em menores
quantidades; c) induzirão os indivíduos a investir mais pesadamente em novas
tecnologias de exploração e prospecção; e d) levarão as pessoas a dirigir seus
esforços na busca de novas fontes de energia ou de substitutos para os recursos
naturais.
O trabalho é falho, também, no plano ético-filosófico, ao
ignorar o quanto são benéficos os produtos extraídos dos insumos e
matérias-primas naturais usados na produção dos bens, a exemplo de uma máquina
de radiografia, ou de um material, como o grafeno, que se tornam não só úteis,
como indispensáveis na preservação da vida humana. Falho, da mesma forma, em não
diferenciar esse consumo produtivo, do improdutivo, existente na forma dos
gastos governamentais, que acarretam redução da poupança privada via impostos, afetando
substancialmente a vida da população do planeta.
Mas não vamos esperar que a Royal Society vá dialogar sobre
o excesso do consumo governamental na Rio+20. Ao contrário, vai discutir "um
padrão igualitário de consumo”, esperando um futuro menos “desigual e inóspito”
para as nações, discussões que exigirão maior intervenção dos governos no
mundo. Infelizmente, essa é a ideia
inserida no trabalho: seus signatários acreditam que uma maior ação do governo
protegerá o homem e o planeta. Nem passa por suas cabeças que se trata de uma
utopia; que a solução consiste em dar mais liberdade aos agentes do mercado,
necessária para estimular a criatividade na produção de novos insumos e
matérias-primas. Estes substituirão os antigos, a exemplo do que ocorreu no
passado com a máquina a vapor e o arado movido a boi, entre tantos outros, num
processo denominado no jargão econômico de “destruição criadora”.
Sabemos, ademais, que a Royal Society não
fará a defesa da iniciativa privada, pois, para isso, teria que condenar as
operações do Estado, colocando em jogo os subsídios que recebe como conselheira
do governo britânico...
Alfredo Marcolin
Peringer
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