Alfredo Marcolin Peringer*
Aristóteles,
na obra “Ética a Nicômaco”, falando sobre a criação da Natureza, cita que: “É
impossível para uma pedra, que tem um movimento natural para baixo, conseguir
reverter esse movimento, passando a se movimentar para cima, mesmo se alguém
tentar dez mil vezes inculcar esse hábito nela; nem fazer o fogo se movimentar para baixo, ou se mudar a direção de qualquer
ente, atribuída pela natureza...”
A Natureza
fascina. Conservo uma Samambaia entre duas janelas e costumo brincar, trocá-la de
foco, fechando um dos lados e abrindo o outro, para vê-la mover seus ramos,
paulatinamente, em direção ao lado com maior luz. A ação dela é sempre a mesma!
Está amarrada a um código da Natureza que a obriga a escolher a claridade para
se manter viva. Trata-se de uma ação pré-programada, agendada a guisa de
trabalho, que ela tem que obedecer como
uma escrava. Aliás, mais do que isso. Uma escrava pode recusar a fazer algo,
decidindo, inclusive, a não viver, mas isso também é impossível para a minha
Samambaia fazer por contra própria.
Claro, se um obstáculo a impedir de fabricar o seu alimento básico — a
glicose — cuja matéria-prima é a luz solar, a água e o dióxido de carbono,
coletado pelas raízes e ramos, ela morre.
Com o animal não-humano
não é diferente. A Natureza também lhe deu uma vida para proteger e cuidar. Não
lhe impôs limites mecânicos, como fez com os vegetais, mas lhe deixou para
sempre dois mestres, o prazer e a dor, e um potente órgão sensitivo que o avisa dos
perigos iminentes ou da sede e fome, induzindo-o a fugir ou reagir, a beber
água ou a caçar, mas cada ação não vai além da água ou da ‘presa à boca’, sem
quaisquer provisões para o futuro. A Natureza, semelhante à minha Samambaia,
também o proibiu de se suicidar:
diferente do Homem, ele é o único animal que não atenta contra a vida.
Intriga a Natureza
não ter imposto nenhum limite mecânico ao Homem. Deixou-o livre para escolher os
valores que vão ajudá-lo na proteção da vida e no trabalho de mantê-la. Mas
logo se compreende a razão dessa liberdade. Condicionou-o, semelhantemente aos
animais não-humanos, ao prazer e a dor, e incutiu nele uma poderosa
consciência, com capacidade para adquirir conhecimento ilimitado. Muniu-o com um
sistema mental complexo, em que os sentidos captam as imagens e informações que
se transformam em conceitos guardados na memória, para que a razão analise e acione
a ação, sempre com vistas a sair de uma situação menos favorável para outra
mais favorável. Trabalha, poupa, investe em métodos longos de produção, faz
plano, minimiza os riscos da falta de matérias-primas, insumos e bens e
serviços, base do seu sustento e prazer.
O Homem não
precisaria de um guia ou código de ética para orientar as suas escolhas e ações.
Mas a Natureza criou uns diferentes dos
outros em inteligência e produtividade e isso, não raro, costuma acionar a
inveja e a cobiça. Ademais, há a possibilidade de a Natureza ter ultrapassando
os seus próprios limites naturais, quando fez o Homem à semelhança de Deus e do
animal, como nos afirma Heráclito. O
Homem animal, junto com a cobiça são fulcros de ações agressivas contra a vida
e o patrimônio de outro Homem, condenadas assim por Ayn Rand: “Nenhum homem – ou grupo, sociedade ou governo – pode iniciar o uso da força contra
outro homem, a não ser em retaliação a quem a iniciou... ou obter qualquer
valor de outro recorrendo à força”.
Nas sociedades
modernas e tão amplas ao ponto de jamais terem sido imaginadas pelos pensadores
gregos, os maiores agressores à vida do Homem e aos demais valores necessários
para mantê-la são os próprios governos, ainda que, paradoxalmente, tenham sido criados
para amparar tais valores. Como os Senhores da Guerra e do Imposto, ceifam vidas,
expropriam os valores obtidos com o trabalho e desestimulam a criatividade
humana.
São condições que
exigem a proteção de um guia ético para o Homem, semelhante ao da minha Samambaia,
em que o Mal é tudo aquilo que atente
contra a sua vida e o seu trabalho na busca da luz, da água e do ar,
necessários para ela produzir o seu alimento básico, a glicose. O Bem é tudo que contribua positivamente
com a vida dela e dos meios utilizados para mantê-la. Com o Homem não é
diferente. Um código de ética para ele
também tem que vincular o Bem ao
engrandecimento da sua vida e dos frutos do seu trabalho. E o Mal a tudo que afetar negativamente esses
valores morais básicos: vida e trabalho.
Tanto para a minha Samambaia quanto para o Homem, o Mal pode levá-los à extinção...