terça-feira, 29 de julho de 2008

A alta do preço dos alimentos, a inflação, os juros e a moeda.

por Alfredo Marcolin Peringer*

O presidente Lula, preocupado com a alta do preço dos alimentos, afirmou que o “melhor remédio para combater a inflação é aumentar a produção". As donas de casa que costumam ir aos supermercados gostam de ouvir isso. O povo brasileiro em geral tem ojeriza à inflação e gostaria de evitar as variações constantes dos preços dos alimentos, uns mais, outros menos. Mas os economistas sabem que essas variações não são inflacionárias: trata-se de “aumento dos preços relativos”. Milton Friedman, no seu livro “Liberdade de Escolher”, nos ensina que “a inflação é um problema eminentemente monetário”. Não existe, assim, a tal inflação de custos, apenas a inflação de demanda. No caso de o Banco Central do Brasil (BC) não aumentar a quantidade de moeda, a alta dos preços de uns alimentos tem que ser compensada com a queda de outros ou de suas quantidades.
Outra falácia muito difundida entre os economistas do governo — que o vice-presidente José Alencar vem tentando corrigir! — refere-se ao uso das variações das taxas de juros como meio de controlar a inflação. Friedman ajuda a reparar esse erro com certo humor, ao fazer uma analogia jocosa de Demetrius, personagem shakespeariano de “A Midsummer Night’s Dream”, com o FED, Banco Central americano. Diz que “Demetrius evita Helena, que o ama, para perseguir Hermia, que ama outro”. O FED, analogamente, “desvia o seu coração do controle das quantidades de moeda (que seria o seu verdadeiro amor), para as taxas de juros, sobre as quais não tem nenhum controle”, e, seria de acrescentar-se, tampouco afinidade.
Infelizmente, no Brasil as relações do BC com o Tesouro Nacional são diferentes daquelas que o FED mantém com o Tesouro Americano. Aqui o BC é refém de um governo gastador, que não se contenta com uma receita tributária na casa de 37% do PIB, obrigando-o a administrar uma dívida em títulos de cerca de R$ 1,26 trilhão. Mas são relações promíscuas. Não é papel de um banco central clássico ajudar na gastança do governo. Aliás, segundo Friedman, nem precisariam existir bancos centrais, apenas um mecanismo que aumentasse paulatinamente em 4% ao ano a quantidade de moeda em poder do público e dos depósitos nos bancos comerciais, pois considera-os uma fonte de custos e de desestabilização econômica. Aliás, o nosso BC é um exemplo vivo desse mau desempenho. Mantemos o recorde de ser o País a ter, pelo período mais longo de tempo, as mais elevadas taxas inflacionárias no mundo.
A preocupação do Presidente Lula, ainda que louvável pela boa fé, não deve ser dirigida ao setor produtivo, mas ao BC, sob o seu comando, exigindo que essa Instituição reduza outra produção: a de moeda. Isso porque esse é o único remédio eficaz e duradouro para evitar o recrudescimento da alta geral e contínua dos preços.

*Economista